fran ilich on Thu, 31 Jan 2002 06:15:01 +0100 (CET)


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[nettime-lat] FW: [multitudes-infos] hardt interview in jornal do brasil



------ Mensaje reenviado
De: geert lovink <geert@desk.nl>
Fecha: Thu, 31 Jan 2002 10:07:18 +1100
Para: fran ilich <ilich@de-lete.tv>
Asunto: Fw: [multitudes-infos] hardt interview in jornal do brasil

From: "matheron francois" <matheron.francois@wanadoo.fr>
To: "Multitudes Info" <multitudes-infos@samizdat.net>
Sent: Wednesday, January 30, 2002 11:20 PM
Subject: [multitudes-infos] hardt interview in jornal do brasil

O velho mundo novo
Autor do livro 'Império', o filósofo Michael Hardt diz que EUA mudam de
tática para manter sua hegemonia


ALEXANDRE WERNECK



[29/JAN/2002]


Pouca coisa mudou. Essa é a opinião do filósofo americano Michael Hardt,
quase cinco meses depois dos atentados terroristas de 11 de setembro nos
Estados Unidos. Para ele, o mundo continua praticamente o mesmo. ''Ficou
muito fácil as pessoas dizerem que mudou tudo'', alerta. Professor de
literatura da Duke University, na Carolina do Norte, Hardt é o autor, ao
lado do filósofo e cientista político italiano Antonio Negri, de um dos
livros mais importantes de 2001, Império. A obra é um retrato da
globalização como um fenômeno que, se, por um lado, sepultou o antigo
imperialismo dos séculos passados, por outro, criou o que os autores chamam
de sistema imperial, uma rede de poder global mais forte que a ação dos
Estados e seus exércitos. Hardt está no Brasil para participar, a partir de
quinta-feira, do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, o encontro
internacional que reunirá integrantes de movimentos antiglobalização e
membros da intelligentsia da esquerda mundial. Hoje, no Rio, ele é aguardado
no debate de encerramento do ciclo Vozes do milênio - Para pensar a
globalização, promovido pela Escola de Comunicação da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Museu da República. O encontro acontece às
15h, no auditório do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Aos 43 anos, Hardt
está preocupado com a criação de uma democracia ''dos velhos tempos'', com
igualdade e participação coletiva e diz que a esquerda precisa ser mais
utópica. A seguir, sua entrevista.


- Como o senhor explica que um livro sobre a globalização, com uma leitura
tão claramente marxista como Império, tenha se tornado um sucesso editorial?

- Não sei exatamente, mas acho que isso pode ter acontecido porque o livro é
utópico. Não digo utópico no sentido de algo que não pode ser, mas no
sentido de que acreditamos que o mundo pode ser melhor. Acho que na esquerda
de hoje há uma falta de pensamento com utopia.

- E as pessoas sentem falta dessa utopia?

- E isso é compreensível. Mas não acho que o processo esteja sendo entendido
em toda a sua complexidade. A mídia americana teve dificuldade de entender o
livro. As pessoas me perguntavam se a globalização é boa ou má. A resposta
é: nenhum dos dois e ambos. E isso é difícil de as pessoas entenderem. A
maior parte das pessoas que gostou do livro é contrária ao neoliberalismo.
Mas não há apenas a opção entre o neoliberalismo e o modelo que havia antes
dele. Muitos dos aspectos da globalização, o econômico, o cultural ou o
político são ruins, são formas de exploração. Mas ao mesmo tempo, o mesmo
processo carrega um potencial intenso para a liberação.

- O que se pode dizer hoje, algum tempo depois dos atentados de 11 de
setembro de 2001?

- Acho que há muito exagero a respeito do quanto as coisas mudaram depois
daquele dia. Sem dúvida algo mudou, é inegável, mas ficou muito fácil as
pessoas dizerem que mudou tudo, que o mundo agora é outro. Essas mesmas
pessoas, no entanto, dizem as mesmas coisas que diziam antes de 11 de
setembro.

- O que mudou, então?

- Depois do que aconteceu, parece que os Estados Unidos voltaram a agir num
estilo imperialista à velha moda, como os poderes imperialistas europeus
agiam cem anos atrás. Isso é verdade, mas não é o principal. O mais
importante não mudou. Nos últimos dez anos, a ideologia militar e
diplomática dos Estados Unidos tem tido duas dimensões. Uma delas é esse
movimento imperialista, com ações militares no Golfo, na Bósnia etc. Mas a
outra é ideológica e imperial. Ou seja, age por interesses globais, com uma
nova lógica de poder que não é aquela do Estado-Nação.

- E como ela funciona?

- Quando falamos no debate sobre direitos humanos em Kosovo, alguns dizem
que o discurso do exército americano de promover o interesse humanitário
universal é uma mistificação ideológica e que, na verdade, eles são apenas
um poder imperialista. Eu acho que há ambivalência, até contradição, na
ideologia do exército e da diplomacia americanos: os dois princípios estão
atuando ao mesmo tempo. No que se refere aos episódios de 11 de setembro, a
dimensão imperialista está mais aparente porque os Estados Unidos estão
falando mais grosso, com a voz do Estado-Nação protegendo o próprio
território. Mas eu e Antonio Negri achamos que, a longo prazo, a lógica
imperial será mais efetiva e a lógica imperialista não terá mais sucesso. O
cenário do antigo imperialismo é inócuo para lutar contra este novo inimigo
que ficou evidente nos atentados. É por isso que os americanos estão tão
perplexos. Há muita discussão nas forças armadas americanas sobre o que é um
inimigo que opera em rede e como atacá-lo. A Al Qaeda e outros grupos
terroristas são redes. A velha forma de controle militar e político não é
capaz de atacar uma estrutura como essa. A forma imperial é mais eficiente.

- Mas o Estado americano não é cada vez mais forte diante dos outros
Estados?

- É verdade. Mas quando dizemos que os Estados-Nação, mesmo os mais
poderosos como os Estados Unidos, estão declinando, não significa que eles
não são mais importantes. Significa que o tipo de dominação que eles
exerciam está se desfazendo. Este poder está assumindo novas formas. A
socióloga holandesa Saskia Sassen diz que os ministros da economia exercem
funções locais, mas ligadas a uma visão global. Ela usa Davos (cidade suíça
onde se dá um encontro anual de lideranças capitalistas) como exemplo de uma
espécie de campo de treinamento, onde esses ministros encontram outros
economistas e depois voltam para casa para dar continuidade às velhas
funções relacionadas a seus próprios países. Mas eles não fazem isso em um
cenário nacional. Os funcionários do governo americano estão na verdade
administrando um capital global.

- O senhor acha que depois de 11 de setembro a esquerda passou a ser vítima
de revanchismo contra o que é antiamericano?

- Logo depois daquilo, a imprensa de direita nos EUA começou a dizer que os
movimentos antiglobalização eram tão ruins quanto o terrorismo. Quatro
artigos de revistas semanais de direita disseram que eu, Antonio Negri e
nosso livro Império éramos responsáveis pelo 11 de setembro.

- Com que argumentos?

- Primeiro foi a National Review, depois a New Republic, a New Criterium e a
Weekly Standard. Esta última, aliás, não fala só de nós, mas diz que o
filósofo alemão Martin Heidegger é o mentor intelectual da esquerda (nos
artigos The imperial left - Why american academics love Hardt and Negris
''Empire'' e Postmodern jihad - What Osama bin Laden learned from the left).
Claro que Heidegger nunca foi um intelectual de esquerda. Tudo isso foi
fruto de uma compreensão fraca do que escrevemos e é ideológico no pior
sentido. A direita ideológica viu uma oportunidade de usar aquele
patriotismo todo para atacar os seus inimigos. Mas acho que já ultrapassamos
esse problema.     .

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