Ars Longa on Sat, 18 May 2002 11:54:01 +0200 (CEST)


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[nettime-lat] A todos os artistas portugueses


carta sobre extinção do iac

>Este texto foi elaborado por João Tabarra, Paulo Mendes e Pedro Cabral Santo e
destina-se a ser publicado nas páginas de opinião do jornal Público, o mais
breve possível. 
> 
>Pensamos ser positivo que o texto seja assinado pelo maior número de
intervenientes no sistema artístico. O texto vai ficar também disponível na
internet, podendo ser aí também assinado e acompanhado pelos vossos
comentários. 
> 
>Ao assinar mencionem também o vosso estatuto profissional (artista, comissário,
crítico, galerista.).
> 
>Precisamos pois da tua assinatura. Não estamos aqui a tratar de questões de
âmbito estético, trata-se sim de uma tomada de posição colectiva.
> 
>O endereço electrónico para confirmarem a subscrição com carácter de urgência:
> 
>instituto2002112@hotmail.com
> 
>O site para a vossa participação e leitura do documento:
> 
>http://extincaoiac.home.sapo.pt
> 
> 
> 
>ASSINA E DIVULGA ESTE TEXTO.
> 
> 
> 
> 
> 
>EM VIAS DE EXTINÇÃO
> 
>1. 
> 
>Em 1997 foi criado pelo decreto de lei nº 10398/9797 de 28 de Abril
> 
>o Instituto de Arte Contemporânea ( IAC ) cujas atribuições e objectivos
seriam: 
> 
>"Divulgar a arte contemporânea em todo o território nacional, através da
organização de exposições, colóquios e outras iniciativas de carácter
didáctico. 
> 
>Apoiar os artistas plásticos, em projectos individuais e colectivos, realizados
no país e no estrangeiro.
> 
>Apoiar as associações culturais e outros agentes para desenvolvimento de
projectos, exposições e outras actividades de divulgação da arte
contemporânea em todo o território nacional e no estrangeiro.
> 
>Organizar as representações e exposições de arte portuguesa em eventos
internacionais, tais como bienais, actividades decorrentes dos acordos
culturais e outras de carácter oficial.
> 
>Promover programas educativos sobre arte contemporânea.
> 
>Criar uma colecção de arte contemporânea nacional e internacional."
> 
>Propunha-se assim o recém criado instituto dar resposta de uma forma objectiva
e responsabilizante a uma série de questões levantadas por outros modos de
criação e novas estruturas de produção que emergiram com uma nova geração de
artistas contemporâneos.
> 
>Essas movimentações que correspondem a novos tipos de trabalho artístico usando
outros materiais e suportes, a um grande número de exposições colectivas
independentes, a novas associações culturais ou a renovados espaços
expositivos, tinham agora um parceiro especializado para dialogar.
> 
>Vendo as atribuições e objectivos a que se propunha aquando da sua criação,
podemos constatar que várias dessas propostas não foram ainda concretizadas,
algumas ficaram mesmo aquém da ideia inicial, outras parecem-nos, não terem
tido ainda tempo para serem desenvolvidas e implementadas. Mesmo ao nível do
seu funcionamento interno, parece-nos fundamental incrementar uma maior
transparência, nomeadamente, na atribuição dos apoios, na forma como são
analisados os projectos, no seu relacionamento com os diversos agentes:
artistas, comissários institucionais e independentes, escolas públicas e
privadas, produtores de eventos nacionais e internacionais, galerias,
publicações e todos os restantes envolvidos neste processo designado por
indústria cultural.
> 
>Ao referir estes factos não pretendemos fazer uma crítica fácil, mas
simplesmente e de forma responsável constatar que, embora muito tenha sido
feito, cinco anos foi apenas o tempo necessário para a estruturação das suas
fundações. Seria também injusto não invocar aqui a dedicação dos
trabalhadores deste instituto e o empenho que demonstraram no cumprimento
das atribuições estabelecidas.
> 
>Este organismo é portanto uma estrutura frágil, ainda permeável a um conjunto
de pressões externas, que por vezes dificultam o correcto exercício da sua
actividade. 
> 
>Apesar de tudo, começou-se finalmente a proporcionar aos artistas plásticos
condições ainda que mínimas para a sua existência e criação, bem como, e
talvez o mais importante, para a dignificação e respeito pelo trabalho
desenvolvido. E a contribuir de forma responsável para o entendimento dos
discursos artísticos como factor de plena cidadania, e que o seu trabalho é
uma componente e não um acessório de um estado que se quer afirmar como
livre, plural e desenvolvido. Não é apenas o património do passado que se
deve constituir como referência para o presente.
> 
>A imposição de uma extinção/fusão precipitada do nosso instituto não resolverá
os problemas da Arte Contemporânea, mais, recusamos peremptoriamente ser
usados num discurso circunstancial, ultrapassado e demagogo. A solidariedade
nacional não é um tema estranho aos artistas plásticos, nunca o foi.
> 
>2. 
> 
>A autonomia que esta área obteve com a sua criação está agora ameaçada segundo
recentes notícias vindas da parte do novo Ministério da Cultura,
salientando-se que não se constitui como uma surpresa visto que segue
intenções da antiga legislatura. Como é natural e salutar nem todas as
decisões tomadas pelas direcções do instituto foram de âmbito consensual, no
entanto, o que se torna aqui verdadeiramente importante é focar e analizar a
existência de um instituto para a Arte Contemporânea que nos pareceu desde a
sua criação claramente pertinente. Assim, ao invés de se integrar o IAC numa
estrutura onde correrá o risco de se diluir, os procedimentos deveriam ser
exactamente os contrários, dignificá-lo, respeitá-lo, fortalecendo-o e
autonomizá-lo ainda mais.
> 
>Justificar o injustificável com a calamidade das finanças públicas ou conceitos
como transdisciplinaridade parece simplesmente querer sacrificar a cultura à
demagogia política do momento. Por isso, só podemos lamentar a forma como
foi dado conhecimento público das intenções deste novo ministério. A
linguagem utilizada reflecte um total desconhecimento da realidade por parte
do Sr. Ministro Pedro Roseta.
> 
>Tendo em linha de conta que certas áreas de criação contemporânea têm uma maior
projecção mediática, e consequentemente importância política, e que
movimentam também orçamentos mais elevados, não se pode incorrer no perigo
de subalternizar ainda mais, na orgânica do novo instituto, o estatuto
autónomo das artes plásticas.
> 
>Esperamos que o prazo anunciado para a concretização da fusão dos dois
organismos, sobre a qual temos legítimas dúvidas e expectativas, possa ser
aproveitado para de forma pensada, discutida, transparente e responsável dar
a conhecer os verdadeiros objectivos e intenções que estarão por detrás
desta decisão; que desta forma se nos afigura como um perigoso e enorme
retrocesso. 
> 
> 
> 


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